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ARTE SACRA POPULAR: Seo Clínio de Moura

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16 maio
 
      A exposição de Arte Sacra Popular tem a curadoria de Viviene Lozi, diretora do MAS-MT. Reúne 20 esculturas de santos e 10 codornas em argila sobre óleo, dentre as quais a imagem de São Gonçalo do Amarante, santo violeiro e padroeiro da comunidade onde vivia Seo Clínio: o bairro São Gonçalo Beira Rio, situado na margem esquerda do rio Cuiabá, um local peculiar onde o artesanato parece brotar em seus artistas que carregam a essência da sabedoria da arte da cerâmica. A exposição é uma homenagem em memória às mãos habilidosas do ceramista Clínio Moura, este que dominava técnicas milenares, que transformam argila em peças de arte magníficas. Seo Clínio moldou em suas obras o cotidiano, seus costumes, suas crenças, carregadas de significados, que se destacam pela originalidade de seus traços.
      Além de ser uma expressão artística, a cerâmica é uma fonte de renda hoje na comunidade que possui apenas oito artistas produzindo é uma forma de resistência da cultura mato-grossense, do povo ribeirinho refletir sua história, singularidade, memoria e identidade. Que necessita de um olhar com urgência de moradores, associações e poder público para a continuidade da transmissão do saber da cerâmica em São Gonçalo Beira Rio em Cuiabá. O acervo em exposição pertence a Secretaria de Estado de Esporte, Cultura e Lazer de Mato Grosso e ao Museu de Arte Sacra. 
O Artesão Clínio de Moura
      Nascido em Várzea Grande, margem direita do rio Cuiabá, em 1928, no tempo em que a navegação fluvial era o meio de transporte mais prático  para se comunicar com outras cidades do Estado ou com a capital federal, Clínio iniciou sua vida trabalhando desde jovem. Assim, de meados da década de 40 aos anos 50, o jovem Clínio foi marinheiro embarcadista, com carteira da Marinha Mercante, a serviço de companhias de navegação (Gattass & Co), fazendo a rota Cuiabá-Corumbá-Cuiabá, a levar matérias-primas e trazer mantimentos. Orgulhoso da lida, poderia ser marinheiro pelo resto da vida não fosse o serviço de navegação fluvial entrar em decadência a partir da década de 1950, com o advento das estradas de rodagem. E não fosse também pelo fato de ter se apaixonado e se casado com Biuína Moraes, moça nascida e criada em São Gonçalo, comunidade ribeirinha de pescadores, ceramistas e artesãos, margem esquerda do rio Cuiabá, a partir da foz do rio Coxipó. Casando-se com D. Biuína, em 12 de setembro de 1953, Clínio passa a viver em São Gonçalo, onde aprendeu os rudimentos de cerâmica com a esposa e a sogra, D. Isabel Juliana.
     Desde quando começou a moldar argila, ele desenvolveu uma expressão diferente daquela praticada pelas mulheres, que se dedicavam centenariamente à produção de vasilhas utilitárias como potes, panelas e moringas. Clínio moldava figuras como santos, animais, personagens, individuais e em grupo, inspirado no universo ribeirinho. Grupos de violeiros, de cururueiros, casais dançando são exemplos de sua arte. Biuína e Clínio experimentaram peças maiores, como, por exemplo, famílias de codornas com expressivo detalhamento das penas.
     Não é à toa que o seu trabalho desperta a atenção. Ele aprendeu a modelar com a esposa, que vem de uma família de artesãos, numa trajetória de mais de 50 anos dedicados ao desenvolvimento de esculturas em barro. Um dos mais antigos artesãos de Cuiabá, suas peças representam o dia a dia do homem do campo. Porém, em vez de vasos ou travessas, ele começou a modelar pássaros, jacarés, canoas, galinhas d’angola, o carro de boi, presépios ou desenhos desdobrados no barro evidenciando a paisagem da região de São Gonçalo Beira Rio, local onde residiu até sua morte. Descobriu que podia fazer o que quisesse com as mãos. Artista popular e anônimo, ele não assinava o trabalho. Suas esculturas estão espalhadas por diversos Estados. Trabalhou na Marinha Mercante durante oito anos, passou uma temporada trabalhando na roça e só mais tarde descobriu na arte uma forma de extravasar o talento e um modo de ganhar a vida. Suas esculturas são delicadas, desenvolvidas com muita paciência. Para preparar as peças, o artista tinha todo um ritual: em primeiro lugar, era preciso pegar uma canoa, ir até uma barranca buscar a matéria-prima, depois separar o barro, peneirar e dividir o material. Para dar consistência, o ideal era misturar os cacos (sobras)
     Ele passava horas sentado numa cadeira, um canivete na mão acertando algum detalhe que poderia prejudicar a beleza da peça. E logo em seguida o forno de lenha no fundo do quintal fazia a queima das peças. O seu trabalho é diferente: nenhuma peça, por mais parecida que seja, é igual. É isso que caracteriza suas obras.
Sua devoção era por tudo que o cercava. Talvez por isso suas esculturas religiosas agradem tanto aos olhares, como as desta exposição que apresenta as imagens de São Benedito, São Francisco de Assis, Bom Pastor, Santo Antônio, Nossa Senhora de Santana, Nossa Senhora Aparecida e São Gonçalo do Amarante, santo violeiro e padroeiro da comunidade de São Gonçalo Beira Rio.
      O artista moldou na argila o cotidiano daquela localidade, seus costumes, suas crenças, carregando de significados suas peças, que se destacam pela originalidade de seus traços em vários tamanhos.
      Clínio e Biuína deixaram oito filhos: Ozita Cláudia, Júlio, Neuza, Nilce, Maria de Lourdes, Maria Terezinha, Sidney e Ozil que herdaram o ofício dos pais.Ele completaria 92 anos em 18 de maio não fosse uma parada cardíaca enquanto descansava na manhã de 24 de abril de 2008. Seu nome ficará gravado em nossa história, pois um mestre não se perde, eterniza-se por suas obras.
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