A cidade que pulsa: história, arte e cultura nos 306 anos de Cuiabá
É com grande satisfação que o Museu de Arte Sacra de Mato Grosso abre suas portas para a segunda exposição individual do artista cuiabano Carlos Pina, intitulada “Cuiabá 306 Anos: História, Arte e Cultura”. A mostra celebra os mais de três séculos da capital mato-grossense por meio de uma imersão visual e sensível nas camadas de sua história e cultura. Com curadoria do professor e historiador Acir Montecchi, a exposição é protagonizada por um artista cuja trajetória se entrelaça com os afetos, as memórias e as múltiplas formas de ver e viver Cuiabá.
Serão apresentadas trinta obras produzidas especialmente para esta exposição, além de duas instalações que ampliam a experiência sensorial do público. As técnicas utilizadas evidenciam a versatilidade e a sensibilidade do artista: aquarela com café, pigmentos naturais e grafite sobre papel kraft; marcadores permanentes sobre azulejos; e pirogravura. A diversidade de materiais e suportes estabelece um diálogo direto com a pluralidade da própria cidade retratada.
A exposição apresenta um conjunto expressivo de obras que transitam entre linguagens e temporalidades, reconstruindo, em poesia visual, cenas e paisagens de Cuiabá dos séculos XVIII, XIX e XX. Com apurada pesquisa histórica e profunda sensibilidade artística, Carlos Pina convida o público a revisitar ruas, praças, monumentos e personagens da cidade, resgatando fragmentos de memória coletiva e elementos da cultura popular com delicadeza, leveza e profundidade.
Entre os destaques, Pina relembra, em um de seus trabalhos, as festas na casa de Dona Bem-Bem, ou Constança Figueiredo, figura emblemática da sociedade cuiabana, conhecida por organizar tradicionais festas de santo, especialmente as de São Benedito, durante as décadas de 1970 e 1980. A Casa de Bem-Bem, localizada na Rua Barão de Melgaço, no Centro Histórico de Cuiabá, tornou-se um símbolo da cuiabania e foi reconhecida como patrimônio histórico, reforçando a importância da cultura festiva no imaginário da cidade.
Para além das obras bidimensionais, a mostra integra duas instalações especiais: a primeira homenageia o mestre artesão Alcides Ribeiro, referência no saber tradicional da viola de cocho, instrumento símbolo da musicalidade regional e declarado patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), desde 2004. A instalação conduz o público por uma imersão no processo de confecção da viola, revelando o ofício artesanal que sustenta este bem cultural de rara expressividade.
Já a segunda instalação apresenta o figurino do grupo de Siriri Flor de Atalaia, com estampas ilustradas por Carlos Pina. As vestimentas resgatam a força da cultura popular ao estamparem representações das igrejas históricas de Cuiabá, reconhecidas como patrimônio histórico nos níveis federal e estadual, tais como: Nossa Senhora do Bom Despacho, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, Nosso Senhor dos Passos, São Gonçalo do Porto e Nossa Senhora Auxiliadora, além da viola de cocho. O diálogo entre a arte gráfica e o corpo em movimento dos dançarinos de Siriri revela o entrelaçamento entre cultura, arte, fé, tradição e identidade cuiabana.
Com esta exposição, o Museu de Arte Sacra reafirma seu compromisso com a preservação, valorização e difusão do patrimônio histórico e cultural mato-grossense, unindo arte contemporânea, memória coletiva e tradição popular em uma narrativa viva, afetiva sobre Cuiabá.
Sejam todos bem-vindos a esta homenagem que celebra os 306 anos de Cuiabá, cidade que pulsa passado, presente e futuro, se desenha no tempo com linhas de memória, se colore de afetos, se move com a força da tradição e canta, em cada som, a beleza de seu povo e a esperança do que ainda está por vir.
Viviene Lozi Rodrigues
Diretora Executiva e Curadora do Museu de Arte Sacra de Mato Grosso
Cuiabá-MT, 13 de maio de 2025
Cuiabá 306 Anos: História, Arte e Cultura
A cidade de Cuiabá completa 306 anos de fundação e, para celebrar essa data histórica, apresentamos a exposição “Cuiabá 306 Anos: História, Arte e Cultura”, com o olhar sensível do artista plástico Carlos Pina sobre a cidade.
Esta exposição é uma jornada de Carlos Pina pela memória e pela identidade cuiabana, refletida em obras magistralmente compostas para a celebração. Nelas, o artista revela todas as dimensões dos elementos representados: a profundidade, o relevo, o tempo, a continuidade e os sentidos.
As obras aqui expostas percorrem diferentes temporalidades, recompondo cenas que remetem do período colonial ao século XX. Em certos momentos, aproximam-se da cidade modesta, de ruas estreitas, rica em história, cultura e beleza natural — a mesma que o pintor e viajante naturalista Hércules Florence testemunhou ao passar pela Cuiabá do século XIX, durante a Expedição Langsdorff. Pina navega até a contemporaneidade: a cidade torna-se palco para seu olhar flâneur ¹, que captura encantos e sentimentos do cotidiano, dos lugares, das praças e dos monumentos. Sua sensibilidade nos convida a flanar, absorver a dinâmica desse olhar e levar para casa o movimento e as pulsações da cidade.
Os desenhos, aquarelas, pirogravuras e azulejos são registros vigorosos, fruto de pesquisa, sensibilidade e criatividade. Eles entrelaçam os observadores na teia do que se tornou história e tradição cuiabana.
A linguagem artística de Pina, condensada nesta exposição com potência singular, nos permite conhecer e celebrar 306 anos da dinâmica de uma cidade em movimento — entre passado e presente —, traçada com os contornos da poesia visual.
Acir Montecchi
Maio de 2025
Curador da Exposição
¹ Termo de origem francesa que designa o indivíduo que perambula pelas ruas da cidade observando-a atentamente, tornando-se ao mesmo tempo espectador e intérprete da vida urbana.
CUIABÁ – 306 ANOS
Localizada no coração da América do Sul, no que hoje é conhecido como o Centro Geodésico do continente, Cuiabá – outrora batizada como Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá no século XVIII – acumula três séculos de histórias, tradições e transformações.
Como arquiteto, urbanista e artista visual, sempre fui um apaixonado aprendiz da História do Brasil, de Mato Grosso e, especialmente, da minha terra natal: Cuiabá. Desde que iniciei minha trajetória artística, em 2018, tenho o prazer de retratar a “terrinha” por meio de aquarelas, pirogravuras e desenhos em azulejos. Para minha surpresa, esses traços cuiabanos conquistaram o carinho do público.
Como admirador da História e da Arte, busco resgatar a memória da antiga Cuiabá por meio de ilustrações baseadas em fotografias, livros e registros históricos. Em 2019, recebi um desafio inesperado: ilustrar a dissertação de mestrado da professora Jhucyrllene Rodrigues, com cenas históricas da cidade. Quase recusei, mas aceitei o convite e, com muita pesquisa, cumpri a missão.
Anos depois, a Profª Nileide Dourado, me convidou para ilustrar seu livro “A Educação em Mato Grosso Colonial (2021)”, também repleto de reconstituições históricas em forma de arte. Esses projetos me levaram a mergulhar em arquivos iconográficos, estudar vestimentas, arquitetura, hábitos e outros elementos de uma Cuiabá que não vivi, mas que passei a conhecer através de traços e cores.
Entre minhas principais inspirações, destaco o legado do arquiteto e artista cuiabano Moacyr Freitas, cujo trabalho iconográfico é uma referência fundamental para quem deseja retratar nossa querida cidade.
Na exposição Cuiabá, 306 anos, o público poderá conferir pinturas e desenhos que retratam a capital mato-grossense do século XVIII ao XX – algumas baseadas em fontes históricas, outras recriadas a partir de pesquisas, mas sempre com rigor e afeto. Além disso, apresento um conjunto de vestimentas típicas do grupo de Siriri Flor de Atalaia, que trazem estampas criadas a partir dos meus desenhos, explorando a riqueza da nossa cultura popular. Também compartilho registros do processo de construção da viola de cocho pelo mestre artesão e amigo Alcides Ribeiro, mostrando não apenas o instrumento final – patrimônio cultural da região –, mas também o “saber fazer” que o envolve.
Vale ressaltar que algumas obras desta exposição nasceram de esboços em meus cadernos de desenho, muito antes que a mostra fosse concebida. Desde os primeiros desafios como ilustrador histórico, descobri o prazer de “brincar” com o passado, transformando-o em arte.
Esta exposição é minha homenagem à Cuiabá tricentenária. Que todos possam apreciar a riqueza histórica que ela testemunhou ao longo de três séculos. Quanto ao século XXI, como exceção, a última obra consiste em um urban sketching (desenho urbano) feito in loco no Centro Histórico de Cuiabá recentemente, representando a continuidade de uma história que presenciamos cotidianamente e que venham novos capítulos para “desenharmos” – se Deus permitir.
Carlos Pina
Fevereiro de 2025
Artista da exposição
📅 Data de abertura: 08 de junho de 2025 (Domingo)
⏰ Horário: 10h
📍 Local: Museu de Arte Sacra de Mato Grosso
🖼️ Período da exposição: 08/06 a 07/09/2025
🕒 Funcionamento: Quarta a domingo, das 9h às 18h
🎟️ Ingressos:
Abertura com Entrada gratuita
R$ 10 (inteira) | R$ 5 (meia)
Gratuito para estudantes e professores da rede pública, guias de turismo, PCDs e maiores de 60 anos.
📞 Contato e agendamentos escolares:
(65) 3056-1373 | 99965-0319
Política Nacional Aldir Blanc
Apoio: Casa das Molduras
Realização: Secel, Museu de Arte Sacra, Ação Cultural e Carlos Pina
Fomento: Governo Federal do Brasil, Ministério da Cultura, Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Cuiabá e Prefeitura de Cuiabá.