EXPOSIÇÃO PRESÉPIOS
Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso, Museu de Arte Sacra de Mato Grosso e Ação Cultural em parceria do Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho, apresenta a exposição Presépios.
11 artistas mato-grossenses de coração, presenteando o público cuiabano com 13 representações singelas do nascimento de Jesus, buscando resgatar o genuíno significado do Natal. Criadores e criaturas, da exposição “Presépios”, estarão no Museu de Arte Sacra de Mato Grosso em Cuiabá, de 27 de novembro de 2021 a 30 de janeiro de 2022, com exposição dos Artistas: Alair Fogaça, Deltildes Rosa, Domiciano Marques, Irani Laccal, Ligia Maciel, Maria Oliveira, Marlete Baldini, Nice Aretê, Ferraz Ronei, Rosylene Pinto e Valéria Dos Santos.
Além da exposição dos 11 artistas, o projeto também conta com um presépio pertencente ao Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho, que ficará exposto no Átrio do prédio Nossa Senhora da Conceição.
TEXTO DE CURADORIA
O presépio é a representação da cena do nascimento de Jesus. Em sua manjedoura, Ele está acompanhado de seus pais, José e Maria, além dos animais que ali estavam e os três Reis Magos que vieram trazer presentes ao menino Jesus que nasceu. É um dos elementos mais tradicionais da celebração do Natal, representando, segundo a tradição cristã, o nascimento de Jesus Cristo. A palavra presépio tem origem no termo latino praesepe, que significa estábulo e curral.
A montagem de presépios tornou-se tradição a partir de 1223, quando São Francisco de Assis em Greccio, cidade próxima de Roma, na Itália decidiu mostrar, às pessoas mais humildes, como ocorrera o nascimento de Cristo, através de esculturas feitas em argila. No Brasil, o primeiro registro de um presépio data do século XVII, ocasião em que o religioso Gaspar de Santo Agostinho montou o primeiro em Olinda, Pernambuco.
O presépio passa a ser um dos símbolos natalinos como a ceia, as cantatas, a árvore de Natal que dão forma à celebração do nascimento do Menino Jesus ao redor do mundo representado tanto pelo sentimento de fraternidade, esperança e amor.
Com a popularização dos presépios, cada lugar e cultura passou a adaptar a representação de acordo com os costumes locais e com os mais diferentes materiais e o que veremos nessa mostra. A exposição do Museu de Arte Sacra reúne 11 artistas mato-grossenses, que presenteiam o público cuiabano com 13 representações singelas do nascimento de Jesus modelados em argila, nas mais variadas formas e técnicas de representação artística.
A sequência do circuito é iniciada com o Presépio de Luz da artista Irani Laccal, em argila esmaltada, que nos apresenta os personagens tradicionais Maria, José e os três Reis Magos em adoração ao menino Jesus, todos com idade madura e idosos, chamando a atenção para inclusão da terceira idade.
O Presépio pantaneiro de Domiciano Marques, em pintura acrílica sobre argila, traz o menino Jesus, Maria e José sobre uma canoa pantaneira representados com características tipicamente das comunidades ribeirinhas do Pantanal. O cenário em cores vivas nos apresenta um peixe pintado e aguapés floridos sobre a paisagem das águas do pantanal mato-grossense, que acolhe a sagrada família em uma representação harmoniosa.
Momento de luz de Valeria Menezes é um presépio que tem como cenário uma oca indígena Pareci, modelada no torno, representando o estábulo do nascimento de Jesus. Em seu interior iluminado encontramos a sagrada família modelada em argila e pintada com tinta acrílica, os personagens carregam características e expressões das comunidades da cidade de Tangará da Serra, onde a artista reside.
Deotildes Rosa com o Presépio Manifestação do Amor, em argilas de cores variadas, tons naturais, apresenta uma modelagem manual, leve e simples com Maria deitada sobre uma fatia de tora de madeira rústica com o menino Jesus envolto acima de seu corpo e seu Pai José de joelhos em posição de adoração, e do outro lado esquerdo, dois asnos.
O Presépio Noite de Ligia Maciel, em estilo minimalista traz a técnica em placa em argila com massa em flocos com aplicação de esmalte cerâmico alcalino chamado branco majólica. A artista apresenta em seu trabalho uma forma de reconexão, simplicidade e equilíbrio na composição. Para a artista a argila representa o chão, aquilo que vem do solo, o que é essencial para ter equilíbrio e paz, assim como a família. As formas simples e a argila pontilhada em seu trabalho trazem informações que se conectam no universo e seus infinitos pontos.
Os dois presépios do artista Ferraz Ronei apresentam características diferenciadas, sendo o primeiro minimalista em que as peças confeccionadas são menores, feita a modelagem na técnica de rolo de cerâmica e a pintura carregada de cores fortes, vibrantes e quentes. Na composição do cenário acrencentou elementos como a vegetação do cerrado, as árvores e seu estábulo são representados por uma caverna feita de caixa de remédios recicláveis e os animais por uma ovelha. Essa escolha do artista diz muito o que somos enquanto cuiabanos e mato-grossenses. O seu segundo presépio é uma composição completa, com todos os personagens modelados em placas de argila em formato maior, sendo seu cenário composto por elementos da natureza como pedras, folhas, cascas de madeiras plantas e galhos secos. Suas duas composições mostram o cenário da sua criatividade, um reciclado e o outro com elementos da natureza, além da composição apenas dos personagens, trabalhando dentro do tema em uma perspectiva de amplitude.
A artista Rosylene Pinto, vem com dois trabalhos, sendo a Sagrada Família do Cerrado e Sagrada Família, sendo o primeiro um totem com as faces da Sagrada Família (Jesus, Maria e José) representada por traços típicos cuiabanos. A escultura é em cerâmica figurativa, modelada manualmente, queimada e com acabamento em tinta acrílica fosca. Nas partes não pintadas, como o rosto em que a cor da argila terracota recebeu uma camada de cera para acabamento e proteção da escultura, inspirada na iconografia do cerrado. A escultura foi pintada com algumas vegetações do cerrado como a Lixeira, o Paepalanthus (Sempre Viva), Douradão, etc. Segundo a artista, saber um pouco mais sobre o cerrado transmite ao público o amor por essa paisagem tão presente em nossas vidas e que devemos preservá-la.
A segunda obra é uma escultura em cerâmica figurativa, inspirada nas famílias negras e com representação que rompe as barreiras da raça e credos, da distinção ou preconceito, todos somos iguais.
O Presépio da artista Marlete Baldini com modelagem em argila branca, tem aplicação de purpurina dourada e é composta como os presépios tradicionais, completos com todos os personagens e cenário. Sua inspiração e influência vem do seu mestre santeiro Clínio Moura, ceramista da Comunidade São Gonçalo Beira Rio com quem a artista aprendeu o seu oficio. Sua especialidade são os santos, o que é demonstrada na composição de José e os três Reis Magos.
Nice Aretê moldou na técnica de argila em placas o Presépio Esperança, temática indígena e apresenta seus personagens como o menino Jesus na forma de uma criança indígena sendo embalado na rede que está dentro da sua casa, uma oca, mas o que os protege é uma peneira que deixa passar a luz do sol em alusão as políticas públicas que deveriam proteger os territórios indígenas. Peneira essa que também simboliza o objeto usado pelos garimpeiros que invadem os espaços de reservas indígenas. A artista representa a Amazônia com as folhas de figo desidratadas, que além de exalar um aroma agradável, a figueira é uma árvore muito citada na Bíblia e tem uma conexão com o sagrado, simbolizando prosperidade, abundância, imortalidade e paz. Em contraponto, o desmatamento é representado no cenário com dois troncos cortados e em cima deles dois pequenos pássaros. A artista com esse presépio traz uma reflexão sobre o sofrimento dos povos indígenas nesses tempos. O nascimento de Jesus como uma esperança, ou seja, o nascimento de um salvador, assim como todas as crianças que nascem, principalmente as indígenas, que são a esperança da continuidade da existência de nossas florestas.
A artista Alair Fogaça, fez o presépio Amor Infinito, simbolizando o amor de Jesus por todos os seres, com todos os personagens negros que vem da influência dos traços dos ribeirinhos do pantanal, das pessoas do cotidiano e seus parentes da comunidade terra vermelhada região do distrito da Guia. A sua modelagem manual usa a argila de Mato Grosso e de São Paulo e suas ferramentas são adaptadas e rústicas, como palito, faquinhas e metais. A pintura é acrílica a base de água para cerâmica e traz técnicas mistas na composição com um ranchinho, típico das roças para simbolizar o estábulo do nascimento do menino Jesus, com elementos como bambu, palha, isopor e papelão como base do cenário.
O Presépio Sacrifício de Maria Oliveira é uma escultura em argila representada por mãos que vão ao encontro da passagem bíblica de Isaias, capítulo 49: “O Servo, luz das nações” versículo 1 – “Prestem atenção, todos os povos do mundo! Eu ainda estava na barriga da minha mãe, quando o Senhor Deus me escolheu; eu nem havia nascido, quando ele me chamou pelo nome; 2 – Ele fez com que as minhas palavras fossem cortantes como uma espada afiada e me protegeu com a sua própria mão; 5 – Quando eu ainda não havia nascido, o Senhor me escolheu para ser o seu servo a fim de que eu reunisse o seu povo e o trouxesse de volta para ele. Sou muito estimado pelo Senhor; o meu Deus é a minha força; 16 – Eis que estás gravada na palma das minhas mãos, tenho sempre sob os olhos tuas muralharas. Essas passagens retratam o amor de Deus por toda humanidade”.
Abrimos essa mostra com a reflexão que nós também somos a luz do mundo, assim como Jesus Cristo, pois somos representantes dele e estamos a serviço de nossos irmãos, principalmente aos que não tem esperança.
Que neste Natal de renovação sejamos a luz à disposição de todos.
Viviene Lozi
20 de novembro de 2021