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O SANTO SUDÁRIO

Quando Jesus disse: “consummatum est” e expirou, José de Arimatéia teve a “audácia de ir a Pilatos” (Mc 15, 43) pedir o corpo de Jesus para proceder ao sepultamento conforme o costume. 
Os Evangelhos nos contam que, uma vez concedida a licença, Jesus foi envolto num lençol e depositado num sepulcro novo. São Mateus fala de um pano limpo de linho e São Lucas de um lençol de linho.
O que conhecemos hoje como Sudário é um lençol de linho, de tecido firme e forte, de cor sépia, e de grandes dimensões (4,36m de comprimento por 1,10m de largura) , que traz milagrosamente estampado, de frente e de costas em tamanho natural, a figura de um homem de barba com idade calculada entre 30 e 35 anos, de aproximadamente 1,80m de altura e pesando mais ou menos 80 quilos, que foi torturado, flagelado e crucificado. Conserva-se há mais de quatro séculos na cidade italiana de Turim.
Um lenço com o qual se enxugava o suor do rosto designava-se: sudário. Depois, com o tempo essa terminologia passou a ser usada para designar o lençol ou mortalha utilizada para envolver cadáveres nos sepultamentos. Com o mesmo significado, temos em grego a palavra “sidon” , daí vem sindonologia que quer dizer: estudo do sudário. 
Desde o momento em que José de Arimatéia saiu do Pretório, às pressas, para adquirir o lençol no mercado de Jerusalém, iniciou-se uma história que atravessaria os séculos. Em nossos dias ela desperta interesse tão ou mais significativos que nos primeiros séculos, sobretudo por causa das incógnitas que apresenta e que nem a ciência moderna consegue desvendar inteiramente.
CRONOLOGIA DO SANTO SUDÁRIO
Século I: Os Evangelho relatam que o manto que envolveu Jesus se encontrava dobrado. O manto teria sido recolhido e custodiado pelos cristãos. Para os hebreus, o manto que havia envolvido um cadáver era um objeto impuro que não podia ser exposto. 
Século II: Existem registros de que em Edessa (atual Urfa – Turquia) existia uma imagem de tecido com o rosto de Jesus. 
525 – Durante a restauração da Igreja da Santa Sofía, de Edessa se registra o descobrimento de uma imagem de Jesus chamada acheropita (não feita por mão humana) chamada Mandylion (lenço). Numerosos testemunhos a relacionam com o Sudário, sobre tudo porque os pontos de coincidência entre os traços das cópias de Mandylion – que foi profusamente reproduzido- e o Lençol superam os 100. 
944 – Os exércitos bizantinos, no curso de uma campanha contra o sultão árabe de Edessa, apoderam-se do Mandylion e o levam solenemente a Constantinopla em 16 de agosto. O Mandylion era em realidade a Síndone dobrada oito vezes de modo que se visse só o rosto. 
1147 -Luis VII, Rei da França, durante sua visita a Constantinopla, venera a Síndone. 
1171 – Manuel I mostra a Amalrico, rei dos Latinos de Jerusalém, as relíquias da Paixão, entre as quais está o Lençol. 
1204 – Robert de Clary, cronista da IV Cruzada, escreve que: “Todas as sextas-feiras a Síndone é exposta em Constantinopla […] mas ninguém sabe o que aconteceu com o tecido depois que fora tirado da cidade”. O Lençol desaparece de Constantinopla e é provável que o temor às excomunhões que pesavam sobre os ladrões de relíquias, tenha animado sua ocultação. Diversos historiadores supõem que a relíquia foi levada a Europa e conservada durante um século e meio pelos Templários. 
1314 – Os Templários, uma ordem cavalheiresca de Cruzados, é condenada e dissolvida. Foram acusados de realizar cultos secretos não cristãos. Um dos líderes templários era Geoffroy de Charny. 
1356 – Geoffroy de Charny, um cruzado homônimo do anterior, entrega o Sudário aos cônegos de Lirey, perto de Troyes, na França. Geoffroy explicou que possuía a relíquia durante três anos. 
1389 – Pierre d’Arcis, Bispo de Troyes, proíbe a exibição da Síndone. 
1390 – Clemente VII, antipapa de Avignon, refere-se ao Santo Sudário em duas cartas. 
1453 – Margarida de Charny, descendente de Geoffroy, cede o Sudário a Ana de Lusignano, esposa do Duque Ludovico de Savoia, quem o levará a Chambéry. 
1506 – O Papa Julho II aprova a Missa e o Ofício próprio da Síndone, permitindo o culto público. 
1532 – Incêndio em Chambéry na noite do dia 3 para 4 de dezembro: A urna de madeira revestida de prata que guarda o Sudário se queima em uma esquina e algumas gotas de prata derretida atravessa os diversos estratos pregados do linho. Dois anos depois, as Clarissas costurarão os emplastros atualmente visíveis. 
1535 – Por motivos bélicos, o tecido é transferido a Turim, em seguida a Vercelli, Milão, Niza e novamente a Vercelli; onde permanece até 1561, quando retorna a Chambéry.
1578 – Emanuel Filiberto Da Savoia em 14 de setembro transfere a relíquia a Turim para abreviar a viagem de São Carlos Borromeo que queria venerar a relíquia para cumprir um voto. Após as exibições se realizaram em ocasiões de celebrações particulares da Casa da Savoia ou por Jubileus. 
1694 – Em 1 de junho se coloca definitivamente na Capela do Arquiteto Guarino Guarini, anexa ao Domo de Turim. Aquele mesmo ano o beato Sebastiano Valfré reforça as bordas e os remendos. 
1706 – Em Junho, o Sudário é transferido a Gênova por causa do assédio de Turim, ao final retornando à cidade. 1898 – É tirada a primeira fotografia pelo advogado Secondo Pia entre 25 e 28 maio. Com ela se iniciam os estudos médico-legais. 
1931 – Durante a exibição pelo matrimônio de Umberto da Savoia, a Síndone é fotografada novamente por Giuseppe Enrie, fotógrafo profissional. 
1933 – Exibição para comemorar o XIX Centenário da Redenção. 
1939/1946 – Durante a Segunda guerra mundial, a Síndone é oculta no Santuário de Montevergine (Avellino) de 25 de setembro de 1939 a 28 de outubro de 1946. 
1969 – De 16 a 18 de junho se produz um reconhecimento da relíquia de parte de uma comissão de estudo nomeada pelo Cardeal Michele Pellegrino. Realiza-se a primeira fotografia a cores, tomada por Giovanni Battista Judica Cordiglia. 
1973 – Primeira exibição televisiva ao vivo (23 de novembro). 
1978 – Celebração do IV Centenário da transferência da Síndone de Chambéry a Turim, com exibição pública de 26 de agosto a 8 de outubro. realiza-se também o primeiro Congresso Internacional de Estudo. Os peritos do STURP (Shroud of Turin Research Project), efetuam a investigação de 120 horas. 
1980 – Durante a visita a Turim em 13 de abril, o Papa João Paulo II venera a relíquia. 
1983 – Em 18 de março morre Umberto II da Savoia; doando a Síndone ao Papa. 
1988 – Em 21 de abril se tomam porções da relíquia para a questionada prova do Carbono 14. 
1992 – Em 7 de setembro um novo grupo de peritos efetua um reconhecimento do Sagrado Tecido para ver a maneira de melhorar sua preservação. 
1993 – Em 24 de fevereiro a Síndone muda para trás do altar maior do Domo do Turim para permitir os trabalhos de restauração da capela guariniana. 
1995 – Em 5 de setembro o Cardeal Giovanni Saldarini anuncia as duas próximas exibições, de 18 de abril a 14 de junho de 1998 (para celebrar o centenário da primeira fotografia) e de 29 de abril a 11 de junho do 2000 (com ocasião do Grande Jubileu da Redenção). 
1997 – Na noite entre 11 e 12 de abril um incêndio danifica gravemente a capela da Síndone. O bombeiro Mario Trematore quebra a estrutura de vidro e salva a relíquia. 
1998 – Em 18 de abril se inicia a atual exibição
ICONOGRAFIA
Traços próprios do rosto do sudário, segundo o historiador Paul Vignon: tufo de cabelos, ruga na testa, uma formação quadrada entre os olhos com duas formas de ”V”.
Orbitas grandes, uma sobrancelha mais elevada, assimetria nas maças do rosto, nas narinas e no bigode. Espaço sem barba abaixo do lábio, barba bipartida, ruga no pescoço.
Modelos criados por computador para calcular a altura do homem do sudário, a distância entre o corpo e o tecido e sua posição no túmulo (G. Fanti). O rigor mortis o manteve na mesma posição que na cruz.
Esse modelo permitiu calcular sua altura entre 1,70 cm e 1,80 cm. A idade foi estimada entorno de 37 anos. A proporção entre a tíbia e a do fêmur corresponde a da raça semítica (índice tíbiofemural de 83,8%)
Imagem frontal e dorsal do sudário
SOBRE OS ESTUDOS E ANÁLISES FORENSES
O estudo mais recente foi feito pelo Istituto Officina dei Materiali (IOM-CNR), de Trieste, e pelo Istituto di Cristallografia (IC-CNR), de Bari, em parceria com o Departamento de Engenharia Industrial da Universidade de Pádua, todos sediados na Itália.
Conclusão? As manchas achadas no tecido não podem ser de tinta: elas são de sangue humano, e não é de “qualquer” sangue.
A análise das partículas do tecido, mediante resolução atômica, aponta “que a fibra de linho está cheia de creatinina, [com partículas] de dimensões entre 20 e 90 nanômetros, ligadas a pequenas partículas de hidrato de ferro de dimensões entre 2 e 6 nanômetros, típicas da ferritina”. As declarações são de Elvio Carlino, coordenador da pesquisa. Vale recordar que um nanômetro equivale a um milionésimo de milímetro, ou seja: pegue um milímetro, divida-o em um milhão de partes iguais e você terá um milhão de nanômetros.
O professor Giulio Fanti, da Universidade de Pádua, complementa: as partículas observadas, “pela dimensão, tipo e distribuição, não podem ser uma obra realizada séculos depois no tecido do Santo Sudário”. O que as investigações apontam é que o tecido realmente entrou em contato com o sangue de um homem morto que tinha sofrido múltiplas e graves feridas. Segundo Fanti, “a ampla presença de partículas de creatinina unidas a partículas de ferridrita não é uma situação típica de soro sanguíneo de um organismo humano em estado normal de saúde. Um alto nível de creatinina e ferritina tem relação com pacientes que sofreram um politraumatismo severo, como a tortura. A presença dessas nanopartículas biológicas indica que o homem que foi envolvido no sudário de Turim sofreu uma morte violenta”.
O artigo que detalha o estudo foi publicado na revista científica norte-americana PlosOne, com o título New Biological Evidence from Atomic Resolution Studies on the Turin Shroud (Novas evidências biológicas a partir de estudos de resolução atômica sobre o Sudário de Turim).
O estudo confirma o que outras pesquisas e análises já tinham apontado décadas atrás. Duas dessas análises, realizadas paralelamente em 1978 por Baima Bollone na Itália e por Heller e Adler nos Estados Unidos, por exemplo, demonstraram a presença de bilirrubina (substancia amarelada encontrada na bile) nas marcas do Sudário.
Por Viviene Lozi – 30 de outubro de 2018
Diretora do Museu de Arte Sacra de Mato Grosso
Estudos feitos no pano a partir dos anos 1970 revelaram detalhes sobre a crucificação. Ao longo dos séculos, a peça de linho que teria envolvido Jesus após a crucifixão (e recebido uma impressão de seu corpo) é tema de muita discussão. Alguns defendem sua autenticidade. 
TECIDO ANTIGO 
O Sudário, peça rústica de puro linho, foi confeccionada em tear manual, com técnicas de fiação utilizadas no Oriente Médio na época de Jesus. Vestígios de fibras de um tipo de algodão local, segundo John Tyrer, pesquisador do Instituto Têxtil de Manchester, essa espécie não era cultivada na Europa durante a Idade Média.
FLOR NATIVA
Outro elemento que sustenta a autenticidade do lençol mortuário é o pólen encontrado no tecido. Em 1999, o botânico Avinoam Danin confirmou que o Sudário continha vestígios (do século 8) de plantas que só existiam em Jerusalém. É o caso da espécie Gundelia tournefortii, que teria sido utilizada na confecção da coroa de espinhos.
ROSTO ESTAMPADO
Uma possível explicação para a formação da imagem é a reação de Maillard, na qual os gases libertados pelo cadáver reagem com a fina camada de celulose das fibras de tecido. Para as marcas não serem cobertas por outras manchas, seria preciso que o corpo fosse retirado da mortalha antes de começar a se decompor.
SEM FALSIFICAÇÃO
No século 14, para abafar as discussões, o papa Clemente VII declarou que as manchas não passavam de uma pintura que representava o verdadeiro Sudário de Cristo. Mas pesquisas não detectaram vestígios de tinta e sim de sangue, do tipo AB – considerado raro entre os europeus e comum entre os judeus do Oriente Médio. Além disso, as marcas estão apenas numa camada superficial do tecido, o que técnica nenhuma de pintura medieval seria capaz de reproduzir.
ANATOMIA EM CRUZ
O primeiro registro histórico data de 1354, quando o Sudário foi entregue a uma igreja na cidade francesa de Lirey pelo conde Geoffroy de Charnay. O tecido foi fotografado pela primeira vez em 1898, por Secondo Pia – foi a partir da foto que se descobriu a imagem do “corpo de Cristo”. Desde 1973, quando o Vaticano liberou a peça para análises científicas, alguns estudos mostraram que as marcas (frontal e dorsal) são compatíveis com as de um homem crucificado (veja abaixo). Imagens 3D feitas por pesquisadores dos EUA em 1978, revelaram detalhes que nenhum falsificador do século 13 teria como produzir.
DATA POLÊMICA
Em 1988, o Sudário foi submetido a um teste com carbono 14 – um método para descobrir a data em que o material foi produzido. O resultado indicou entre 1260 e 1390, tornando impossível o uso do mesmo por Jesus. Mas novas pesquisas sugerem que resíduos de um incêndio em 1532 podem ter “contaminado” a peça. Resíduos bacterianos também são apontados II como causadores de possíveis falhas na datação.
TRADIÇÃO JUDAICA
Em 2009, arqueólogos da Universidade Hebraica descobriram, no cemitério de Haceldama (em Jerusalém), uma tumba do século 1 com fragmentos de mantos usados para cobrir mortos da cabeça aos pés, como o Sudário. A descoberta apoia a tese, até então sem suporte arqueológico, de que isso fosse um costume judaico da época.
(Rafael Nunes/Mundo Estranho)
I) Cabeça perfurada – A coroa de espinhos não seria uma tiara, como é comumente retratada, mas uma espécie de capacete que cobria toda a cabeça. Os espinhos mediam 5 cm e causaram 72 perfurações;
II) Traços faciais – O rosto, a barba e os cabelos que aparecem estampados no lençol apresentam características de um grupo racial semita – o que apoiaria a ideia de que Jesus era judeu;
III) Penteado tradicional – O historiador inglês Ian Wilson percebeu nas imagens que o morto usava uma espécie de trança meio desmanchada nas costas. Na época de Jesus, era comum os judeus trançarem os cabelos atrás do pescoço;
IV) Marcas de pregos – No pulso e não nas mãos – como se acreditava na época medieval. Com isso, os nervos medianos são rompidos, provocando a retração dos polegares para dentro das mãos;
V) machucados – Ferimentos nos ombros e nas costas indicam que o morto carregou uma barra horizontal e sofreu quedas no percurso, já que apresenta contusões graves no joelho e no nariz.
Por Tiago Jokura e Giselle Hirata – 27 março de 2018. 
Revista Super Interessante
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EXPOSIÇÃO QUEM É O HOMEM DO SUDÁRIO – CAXIAS – MA, 26 DE OUTUBRO DE 2018;
HTTP://WWW.DERRADEIRASGRACAS.COM/3.%20V%C3%A1RIOS%20ASSUNTOS/1.%20O%20SANTO%20SUD%C3%81RIO%20DE%20TURIM,.HTM, 27 DE OUTUBRO DE 2018;
HTTPS://SUPER.ABRIL.COM.BR/MUNDO-ESTRANHO/O-SANTO-SUDARIO-E-LEGITIMO/ DE OUTUBRO DE 2018;